quinta-feira, julho 24, 2003

Papai, quando eu crescer quero ser como Perseu Abramo.

Significado político da manipulação na grande imprensa

Se é possível fazer jornalismo com objetividade, porque o jornalismo manipula a informação e distorce a realidade? Se é possível identificar e distinguir padrões reiterativos de manipulação, ela é fruto do erro involuntário, da causalidade excepcional ou das naturais limitações da capacidade de observação e conhecimento? Certamente não. A conclusão a que se pode chegar, pelo menos como hipótese de trabalho, é a de que a distorção da realidade pela manipulação da informação é deliberada, tem um significado e um propósito.
Não é necessário estender-se na demonstração de que, na sua imensa maioria, os principais órgãos de comunicação no Brasil de hoje são propriedade da empresa privada. Também não é necessário demonstrar o grau de controle que as empresas exercem sobre a produção, de onde é possível concluir que são os proprietários das empresas de comunicação os principais - embora não os únicos - responsáveis pela deliberada distorção da realidade pela manipulação das informações.
A discussão que deve ser feita, portanto, é a que possa nos levar a compreender porque os empresários da comunicação manipulam e torcem a realidade.
Uma das explicações para essa questão procura situar a raiz da resposta no campo econômico. E há duas vertentes para a explicação economicista do fenômeno. A primeira desloca para a figura do anunciante a responsabilidade última e maior pelo produto final da comunicação: segundo essa vertente, é por imposição — direta ou indireta — desse anunciante (privado ou estatal) que o empresário se vê obrigado a manipular e distorcer. A segunda vertente centra a explicação na ambição de lucro do próprio empresário de comunicação: ele distorce e manipula para agradar seus consumidores, e, assim, vender mais material de comunicação e assim aumentar seus lucros: a responsabilidade é do próprio empresário de comunicação, mas a motivação é econômica.
É bastante provável que ambos esses elementos entrem, em maior ou menor grau, no comportamento de grande parte das empresas de comunicação. Mas não parecem explicar todo o fenômeno. O peso de cada anunciante individual sobre o órgão de comunicação, ou mesmo de seu conjunto, é muito ponderável na pequena imprensa, naquela em que a manipulação surte menos efeito. Onde a manipulação impera é na grande imprensa, na que conta, como recriadora de uma realidade artificial, e, nessa, o peso econômico do anunciante, enquanto expressão editorial, é quase nulo ou bastante reduzido.
A ambição de lucro, por outro lado, não explica, por si só, a manipulação e a distorção. Em primeiro lugar porque muito provavelmente o empresário, no Brasil de hoje, teria mais possibilidades de obter lucros mais gordos e mais rápidos aplicando seu capital em outros ramos da Indústria, do Comércio ou das Finanças, e não precisaria investi-los na comunicação. Em segundo lugar, porque nada garante que outro tipo de jornalismo, não manipulador, não tivesse uma audiência infinitamente maior do que a que consome os produtos de comunicação manipulados. É evidente que os órgãos de comunicação, e a Indústria Cultural de que fazem parte, estão submetidos à Lógica Econômica do Capitalismo. Mas o Capitalismo opera também com outra lógica — a lógica Política, a lógica do Poder —e é aí, provavelmente que vamos encontrar a explicação da manipulação jornalística.

sexta-feira, julho 18, 2003

Como é difícil se informar lendo jornal

Durante o ataque dos EUA e da Grã-Bretanha ao Iraque, vieram do front notícias sobre uma mulher-maravilha chamada Jessica Lynch, a soldado que detonou não sei quantos bárbaros iraquianos, foi esfaqueada num valente combate corpo-a-corpo e depois foi cinematograficamente resgatada do hospital. História perfeita nos dias de hoje, de big brothers e heróis anônimos, em que todo mundo vira celebridade, em que pauta boa é pauta que fala de um personagem com um bom drama e, de preferência, uma história de superação para contar. Se for mulher, melhor ainda. Bonitinha que nem a Jessica, então, perfeito.
Papagaiando a mídia americana, como sempre, nossa imprensa deu um baita destaque à história, páginas e páginas, imagens e imagens. Mas, na hora de desmentir, o espaço encolheu. Como sempre. Quem primeiro deu a matéria aparentemente verdadeira (ela se machucou num acidente, quando seu carro bateu num caminhão, e foi muito bem tratada no hospital, onde não havia esquema de segurança algum que justificasse a destruição levada a cabo no "resgate") foi um jornal canadense. Ninguém deu bola. Aí veio a BBC e o assunto ficou mais conhecido. Depois, a imprensa americana, e por aí foi.
No sábado, 12/7, até as Forças Armadas dos EUA divulgaram relatório admitindo que a história era falsa. Quem leu o Estadão viu uma materica, assim como no Globo de domingo. Jornais que não dão bola para Internacional sequer mencionaram. E Jessica continua quietinha e presa. Perdão, hospitalizada. Dizem que deu muita mordida para se defender dos xiitas de Nassiriya, e tem de ficar com a boca imobilizada até a próxima guerra. Ou até a eleição presidencial, ano que vem.

Fonte: www.observatoriodaimprensa.com.br

quinta-feira, julho 17, 2003

Cansei dessas interrogações chatas que aparecem nos acentos do meu Blog. De hoje em diante o Admirável Mundo Novo passa a ser escrito sem o acento em "admiravel". Agora só falta tirar o acento de Natália, que até agora não descobrir como é que faz para mudar, é que esta que vos fala não é exatamente uma expert em computares. Carol por favor, Help!

Sílvio Santos é a cara da mídia

Um show man: o empresário bem-sucedido não existiria sem aquele "produto" performático capaz de ficar horas seguidas diante das câmeras mostrando a dentadura, oferecendo prêmios e fazendo piadinhas capazes de serem entendidas por dona Maricota & família. O Chacrinha, como animador de auditórios, foi mais engraçado e mais interessante.
Sílvio Santos soube administrar Señor Abravanel — este é o seu mérito. Não é um empresário de mídia, nem empresário de comunicação. Acrescente-se: tem o mais profundo horror aquilo que se convencionou chamar de jornalismo. Horror e desprezo.
O "Episódio Contigo!" foi a demonstração de um desdém que chega às raias do ressentimento. Sílvio Santos aproveitou-se de um conjunto de falhas para vender a sua rentrée:
** uma profissional preparada apenas para cobrir o mundo virtual das telenovelas;

** uma revista de fofocas televisivas, preocupada com a promoção do seu 40º aniversário.

** um setor que está à beira da falência e agarra-se a qualquer patacoada para fingir que está vivo.
O Barão de Munchausen ou o seu similar nativo, Paulo Maluf, não poderiam inventar igual coleção de disparates. E mesmo assim a mídia engoliu, publicou, exibiu, destacou, discutiu, lambuzou-se e ainda faturou algumas páginas de publicidade pagas pelo SBT e pelo semanário Contigo! para salvar as respectivas credibilidades.
Este é o aspecto mais grave da mega-palhaçada encenada por Sílvio Santos em Miami, terra de ninguém da moral e da decência. Juntou-se a compulsão de fazer barulho com o vício de converter em notícia qualquer declaração e o resultado foi esta ultrajante exibição de falta de compostura jornalística.
Somos o Reino das Aspas, terra das citações. Antigamente valia o escrito, hoje vale o dito. Não importa o que. No Brasil publica-se qualquer idiotice desde que precedida e completada pelas duas virgulas ou alças. Liquidada a reportagem, instituímos nas redações nova categoria profissional — os aspeadores que, de certa forma, confundem-se com os aspones. A eles cabe a tarefa de transcrever num idioma semelhante ao português as declarações do declarado. E estamos conversados.
A nova modalidade de jornalismo não caiu do céu. Os comunicólogos que nas fábricas de diploma formam jornalistas e assessores de imprensa não estão interessados que seus alunos façam pesquisas nas bibliotecas ou na Internet. Querem aspas. Se o trabalho de fim do semestre ou fim do curso não tiver aspas, bomba neles.
Chegamos ao absurdo de publicar declarações de colunistas e opinionistas — em geral oriundos da academia — que escrevem regularmente no próprio jornal. O sujeito ganha para escrever e depois o jornal promove a opinião nas paginas de informação, naturalmente entre aspas, o que certamente provocará declarações aspeadas a favor ou contra vocalizadas por cúmplices ou desafetos. Mais um pouco teremos jornais abrindo manchetes garrafais com frases assim: Lula: aspas aumentam exclusão social. Enquanto outros, lembrando Armando Falcão nos tempos da ditadura, farão a bombástica revelação: nada a declarar.

Fonte:www.observatoriodaimpresnsa.com.br

Ando com uma sensação um tanto esquisita utimamente: a de que não faço parte deste mundo. Tenho a imprenssão de que existe alguma coisa aqui que não bate com a realidade.

sexta-feira, julho 11, 2003

Sabe quando tudo está ruim? Pois é sempre pode ficar pior.

terça-feira, julho 08, 2003

Uma dúvida cruel me persegue desde ontem: o que falar para uma turma de aspirantes jornalistas sobre a profissão?
Será que devo desiludí-los ou incentivá-los?

terça-feira, julho 01, 2003

Conjuntivite, esse é o mal que vem me acompanhando ultimamente. Sem poder trabalhar (meu chefe não deixou mesmo com os meus insistentes apelos) e sem ter nada para fazer estou "à beira de um ataque de nervos". Não agüento mais meus olhos vermelhos e ter que ficar passando o tempo todo soro gelado na cara. Eu ando comendo tanto (nervosismo, talvez) que de sábado para cá devo ter engordado uns dois quilos. Não vejo a hora de retonar ao meu maravilhoso e estressante trabalhinho ( de onde espero não precisar tirar férias forçadas novamente ).