Só por hoje eu não queria ser quem sou. Estou farta de mim, dos meus gostos, das minhas roupas, da minha voz. Só por hoje gostaria de ter um novo trabalho, ter outros amigos, falar outra língua, ser um pouco mais magra ou muito mais gorda. Queria ter vivido outras experiências, outros amores, ter lido outros livros. Um novo nome? Porque não? Como será ser chamada de Paula, Francisca, Walmira ou até Renilda (já que esse nome está na moda)? Não sei. Nunca vou saber. E não, eu não acredito em reencarnação. Talvez seja por isso que por hoje, só por hoje, não gostaria de ser quem sou. Gostaria de ser uma outra - nem melhor, nem pior. Apenas diferente.

Eu sempre preferi os contos e acho que meu "paladar" literário corre meio que contra a corrente. Exemplo disso são os textos de Clarice Lispector. Apesar de todos considerarem sua grande obra "A Hora da Estrela", foi com "Felicidade Clandestina", "A Esperança" e outros contos que eu encontrei a autora. Sempre achei que os contos combinam mais comigo e com a minha vida. Curtos, mas ao mesmo tempo densos, sempre com pressa de chegar a algum lugar. E quando você pensa que terminou uma história, tem sempre outras lhe esperando...