quarta-feira, outubro 16, 2002

Repórter desabafa: "Os jornalistas são enganados"
Bia Moraes, de Curitiba


“Em vinte anos de carreira, nunca tive uma mácula. Não me interessa entrar com ações judiciais, processar ninguém. Minha honra não tem preço”. Começou assim o desabafo do jornalista Roberto Silva, 43 anos, repórter policial do jornal O Diário do Norte, de Maringá (interior do Paraná). Ele foi preso na última quarta-feira (3/10), acusado de extorquir dinheiro de um empresário da cidade. Libertado na noite de segunda-feira (7/10), graças à decisão do juiz Joaquim Pereira da Silva, da 1ª Vara Criminal de Maringá, Silva falou à reportagem do Comunique-se.

Muito abalado, ele contou que os cinco dias na cela especial da 9.ª Subdivisão da Polícia Civil de Maringá mudaram sua vida e seus conceitos sobre jornalismo. “Agora eu vejo que em oito anos como repórter policial, não aprendi quase nada. Eu vi o quanto que a gente erra, como se cometem injustiças, mesmo tomando todos os cuidados de ouvir os dois lados, como sempre tomei. Nós, jornalistas, somos enganados o tempo todo. Precisei passar por isso, estar dentro da cadeia para acordar, entender. É desesperador você estar preso injustamente, saber que é inocente e estar à mercê das autoridades”, relatou.

Roberto se considera um “cara de sorte”. Lembra que a situação poderia ter sido diferente. “Esse Evaristo Andrade, que me denunciou ao Ministério Público, podia ter feito coisa pior. Os próprios policiais da delegacia me falaram que eu tive sorte. É fácil contratar dois bandidos, botar numa moto com uma pistola e eles te ‘apagarem’ no trânsito, de noite, você sozinho voltando para casa. É o tipo do crime que nunca ia ser elucidado. Estou vivo, o que me interessa é minha honra, meu nome”.

O jornal onde Silva trabalha há vinte anos o apoiou durante todo o episódio. O repórter está descansando, por recomendação do próprio diretor de O Diário, e ainda não sabe quando e nem como voltará à redação. “Não consigo pensar, nem escrever nenhuma linha. Chorei várias vezes hoje. Ainda não dá para decidir nada”, disse.

Ele não tem dúvidas de que foi vítima de armação por parte do empresário Evaristo Andrade e de policiais militares da P2 (serviço reservado). Em agosto, Andrade foi flagrado com motores de camionetas roubadas. Quem avisou a polícia sobre o desmanche de Andrade foi Roberto Silva, a partir de denúncia que recebeu na redação do jornal. Em relação à P2, Silva tinha produzido reportagens sobre torturas e desmandos de alguns policiais militares.

Fonte: www.comunique-se.com.br

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