terça-feira, março 11, 2003

Lula, o namoradinho da mídia

Em novembro de 1993, um Lula mais gordo, barbudo e desalinhado que o de hoje encabeçava as sondagens do IBOPE com 30% das intenções de voto para a presidência. Apesar da larga distância que faltava até o dia da eleição, nem a militância petista nem a cúpula do partido duvidava da vitória. Afinal, um ano antes, Fernando Collor fora derrubado do poder, com a ajuda decisiva do próprio PT. Foi com esse forte cheiro de poder impregnado no ar que o candidato petista recebeu o repórter Alex Solnik, de IMPRENSA, para uma entrevista exclusiva na então sede do "governo paralelo", em São Paulo. As duas horas de conversa renderam uma das capas de maior repercussão e venda dos 15 anos da revista. O título, em letras garrafais, dava o tom do que viria pela frente "Os jornais não querem que eu chegue a presidência". Estadão, Folha, JB, Globo, RBS, Chico Anysio, Hebe Camargo, Paulo Francis. Ninguém escapou da metralhadora giratória do candidato. Todos estariam contra ele e a favor da manutenção da ordem imperialista. Como todos sabem, Lula perdeu para Fernando Henrique, que contou, de fato, com o apoio – ou com a indiferença – da mídia.

Seis anos depois, em 1999, um Lula mais grisalho, um pouco mais magro e discretamente mais elegante falava novamente a IMPRENSA. Dessa vez, o cenário e o clima eram outros. Derrotado pela terceira vez, o petista aceitou o convite da revista para ser um dos painelistas no VI Seminário de Telejornalismo. Sentado ao lado do jornalista Boris Casoy, Lula voltou à carga. "Nenhuma televisão, com exceção da Record, cobriu a campanha com isenção, independente dos editoriais e das opiniões que o Boris possa ter". E foi mais longe: "a TV Cultura praticamente não cobriu a campanha; o SBT tirou o telejornalismo de sua programação; a Bandeirantes cobriu, mas prefiro não entrar nas críticas que tenho sobre essa cobertura; e a Rede Globo fingiu que não tinha campanha eleitoral no Brasil".

Esse discurso, carregado de mágoa, rancor e ainda aquecido pelo sentimento da derrota recente, foi seguramente um dos últimos petardos do presidente de honra do PT contra empresas de comunicação e jornalistas. Naquele mesmo ano, passada a ressaca da vitória acachapante de FHC, o Partido dos Trabalhadores escalou seu presidente, José Dirceu, para pavimentar o caminho da quarta, e derradeira, tentativa de levar Lula ao Planalto.

No pacote das mudanças estavam incluídas uma faxina para acabar com a influência das tendências radicais dentro PT, uma reforma completa no discurso e no visual do candidato e, finalmente, parafraseando Ernesto Geisel, a aproximação lenta e gradual, porém segura, com os donos daquilo que se convencionou chamar quarto poder. "Hoje eu faço a autocrítica. Devíamos ter dialogado mais com os empresários da mídia nas outras eleições. Fomos radicais. Em 89 sequer aceitamos sentar para conversar", conta o jornalista número um do staff petista desde 1989, Ricardo Kotscho.

O assessor de imprensa de Lula conta, ainda, que seu trabalho também mudou nesta campanha. “O Lula me disse que nas outras campanhas eu era o assessor da imprensa e que nesta eu seria o assessor do Lula para a imprensa”, lembra-se.

Na lida diária com a imprensa, as emissoras de rádio tiveram um papel fundamental nesta campanha do Lula. Todos os dias, Lula estava no dial. Logo de manhã, entrava em link, ao vivo, nas principais emissoras. “O Lula descobriu o rádio”, conta Kostscho. Os jornais regionais também tiveram, na avaliação de Lula, uma importância crucial para a cobertura que a campanha recebeu neste ano. Para ele, Estadão e Folha de S. Paulo continuam achando que podem fazer e desfazer presidente, mas são jornais como A Tarde, em Salvador, Zero Hora, em Porto Alegre, Correio Braziliense, no DF e o Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, em Recife, assim como O Povo e Diário do Nordeste, em Fortaleza e O Liberal, em Belém que informaram os leitores e formaram os eleitores com o perfil dos votantes em Lula.

Fonte: www.uol.com.br/imprensa/

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