quinta-feira, outubro 24, 2002

CENSURA NA IMPRENSA!!!

Roriz comemora saída de Noblat e Cabral

Da Redação

"Estou saindo em solidariedade ao Dr. Paulo e pelo fato de Ari Cunha sempre ter sido contra a linha editorial independente que adotamos". A frase é de Ricardo Noblat, que até o dia 31/10 ainda é diretor de Redação do Correio Braziliense. O jornalista, assim como Paulo Cabral, presidente do Correio e do condomínio dos DA, anunciou nesta quarta-feira (23/10) sua saída do jornal em função de uma moção de censura apresentada nesta terça a Paulo Cabral por 13 dos 19 condôminos.
Durante a tarde desta terça, os brasilienses ficaram sabendo da saída de Noblat e de Cabral através de carros de som utilizados na campanha de Joaquim Roriz, candidato à reeleição do DF pelo PMDB. O governador soube da notícia enquanto almoçava em uma churrascaria com evangélicos. Interrompeu seu discurso e comemorou o afastamento de ambos.
Como oficialmente Ari Cunha, que também é condômino, não chegou a ser destituído do cargo de vice-presidente do jornal, tudo indica que ele sucederá Cabral. No documento entregue a este, os condôminos, liderados por Álvaro Teixeira da Costa, desaprovaram a intenção de afastar Ari Cunha. O jornalista, que está no Correio desde a sua fundação, apareceu em um dos programas eleitorais do governador Joaquim Roriz no primeiro turno das eleições para governador do DF. Ele acusou Noblat e Cabral de utilizarem ilegalmente R$172 milhões dos R$ 225 milhões liberados pela União pela cassação da Rádio Diário de Pernambuco, no início da década de 80.
Noblat não confirmou que Ana Dubeux e José Negreiros, atualmente editores-chefe, serão os chefes de redação do Correio Braziliense. Correm boatos de que Hélio Doyle pode ser o novo diretor de Redação do Correio. Nó próximo dia 01/11, os condôminos estarão reúnidos no Rio para definir o futuro do Correio. "Até dia 31, posso garantir que a linha editorial do jornal continuará independente".

Para maiores informações: http://www.empaz.org/corbraz

terça-feira, outubro 22, 2002

sexta-feira, outubro 18, 2002

quarta-feira, outubro 16, 2002

Repórter desabafa: "Os jornalistas são enganados"
Bia Moraes, de Curitiba


“Em vinte anos de carreira, nunca tive uma mácula. Não me interessa entrar com ações judiciais, processar ninguém. Minha honra não tem preço”. Começou assim o desabafo do jornalista Roberto Silva, 43 anos, repórter policial do jornal O Diário do Norte, de Maringá (interior do Paraná). Ele foi preso na última quarta-feira (3/10), acusado de extorquir dinheiro de um empresário da cidade. Libertado na noite de segunda-feira (7/10), graças à decisão do juiz Joaquim Pereira da Silva, da 1ª Vara Criminal de Maringá, Silva falou à reportagem do Comunique-se.

Muito abalado, ele contou que os cinco dias na cela especial da 9.ª Subdivisão da Polícia Civil de Maringá mudaram sua vida e seus conceitos sobre jornalismo. “Agora eu vejo que em oito anos como repórter policial, não aprendi quase nada. Eu vi o quanto que a gente erra, como se cometem injustiças, mesmo tomando todos os cuidados de ouvir os dois lados, como sempre tomei. Nós, jornalistas, somos enganados o tempo todo. Precisei passar por isso, estar dentro da cadeia para acordar, entender. É desesperador você estar preso injustamente, saber que é inocente e estar à mercê das autoridades”, relatou.

Roberto se considera um “cara de sorte”. Lembra que a situação poderia ter sido diferente. “Esse Evaristo Andrade, que me denunciou ao Ministério Público, podia ter feito coisa pior. Os próprios policiais da delegacia me falaram que eu tive sorte. É fácil contratar dois bandidos, botar numa moto com uma pistola e eles te ‘apagarem’ no trânsito, de noite, você sozinho voltando para casa. É o tipo do crime que nunca ia ser elucidado. Estou vivo, o que me interessa é minha honra, meu nome”.

O jornal onde Silva trabalha há vinte anos o apoiou durante todo o episódio. O repórter está descansando, por recomendação do próprio diretor de O Diário, e ainda não sabe quando e nem como voltará à redação. “Não consigo pensar, nem escrever nenhuma linha. Chorei várias vezes hoje. Ainda não dá para decidir nada”, disse.

Ele não tem dúvidas de que foi vítima de armação por parte do empresário Evaristo Andrade e de policiais militares da P2 (serviço reservado). Em agosto, Andrade foi flagrado com motores de camionetas roubadas. Quem avisou a polícia sobre o desmanche de Andrade foi Roberto Silva, a partir de denúncia que recebeu na redação do jornal. Em relação à P2, Silva tinha produzido reportagens sobre torturas e desmandos de alguns policiais militares.

Fonte: www.comunique-se.com.br

terça-feira, outubro 15, 2002


RSF denuncia cultura da impunidade


Régis Bourgeat (*)

Os jornalistas brasileiros estão pagando caro pelo exercício da liberdade de imprensa. O assassinato de Tim Lopes, da TV Globo, no início de junho de 2002, em um subúrbio do Rio de Janeiro, é uma clara demonstração dessa realidade. Mas esse crime – o assassinato de um jornalista de uma importante rede de televisão, morto por uma organização criminal em uma das maiores cidades do país – não constitui uma imagem representativa da violência da qual a imprensa é tradicionalmente vítima no Brasil.

Na verdade, dos 15 jornalistas assassinados no país desde 1991, a maioria trabalhava para pequenas publicações ou rádios de cidades do interior. Eles pagaram com a vida as revelações que fizeram sobre fraudes cometidas por políticos locais e atos de extorsão praticados por membros da polícia. Contrariamente ao caso de Tim Lopes, em que os assassinos acabaram sendo presos apesar de contarem com a cumplicidade de policiais, quase todos esses crimes permaneceram impunes.

Essa impunidade conduz ao questionamento sobre a organização do poder judiciário no país. Na condição de Federação, o Brasil é regido por uma Constituição que confere amplos poderes aos 26 Estados e ao Distrito Federal que o compõem, em particular na área da Justiça. Assim, o assassinato de um jornalista é da competência exclusiva da justiça dos Estados, mais sensível a pressões locais, e da Polícia Civil, controlada pelos políticos locais.

Só no Estado da Bahia, 10 jornalistas foram assassinados entre 1991 e 1998, na maioria das vezes por razões políticas. Manuel Leal de Oliveira, diretor do jornal semanal A Região, de Itabuna, foi a vítima do mais recente desses crimes. Todos esses delitos continuam, até hoje, impunes.

Com um território pouco maior que o da França, a Bahia continua vivendo, no plano político, sob um regime feudalista anacrônico. Quarto estado brasileiro no ranking econômico, a Bahia atravessou, a partir dos anos 70, além dos problemas nacionais, uma grave crise agrícola. No apogeu dessa crise, Antonio Carlos Magalhães, cacique político onipotente da Bahia e figura dominante da direita brasileira (PFL, Partido da Frente Liberal), consolidou seu poderio pessoal e familiar sobre seu vasto feudo baiano. Foi nesse contexto que Manuel Leal de Oliveira foi assassinado, no dia 14 de janeiro de 1998, em Itabuna, município situado a 450 km ao sul de Salvador.

Os primeiros meses do inquérito, sob a responsabilidade da Polícia Civil da Bahia, constituem um verdadeiro símbolo em matéria de impunidade: uma testemunha foi assassinada, os álibis dos suspeitos foram apenas superficialmente verificados, testemunhas importantes nem sequer foram ouvidas. Em setembro de 1998, o caso Manuel Leal de Oliveira foi "arquivado" pela Justiça de Itabuna, sem que nenhum suspeito tenha sido preso e sem que Fernando Gomes, considerado o principal instigador do crime, tenha prestado depoimento. Prefeito de Itabuna na época, Fernando Gomes é aliado político de Antonio Carlos Magalhães.

fonte: Observatório da Imprensa

segunda-feira, outubro 14, 2002

Não sei por que acordei com uma vontade de ler quadrinhos. Me espantei quando encontrei essa entrevista de Quino, criador de Mafalda...

"Mafalda seria hoje mais pessimista"


Quino, o criador da menina "contestatária" e caprichosa, acredita cada vez menos em revoluções. Vinte e oito anos depois de deixar de desenhar a sua principal personagem, deixou-se obcecar por uma imagem em movimento

Quino anda há mês e meio com um desenho no bolso: um avião projectando-se contra o World Trade Center. É um rabisco tosco, feito a lápis na página de 11 de Setembro da sua agenda azul. "Estou obcecado", diz. Aos 69 anos, o criador de Mafalda deixou-se esmagar por uma imagem em movimento. Garante que, por muito cruel que fossem os seus desenhos, nunca se lembraria de pôr um avião cheio de gente a estatelar-se contra uma torre repleta de pessoas. Ainda acredita em revoluções, mas cada vez menos. Ainda anseia por liberdade, mas sente-se cada vez mais impotente. Cita muito Saramago. No essencial, está agradecido por não ter de desenhar Mafalda desde 1973, exceptuando em campanhas ocasionais da Cruz Vermelha e da Unicef. "Não saberia bem como começar", explicou à Focus.

Como veria Mafalda, "a contestatária", o actual conflito internacional?
Veria como eu o visse. Mas eu, para já, estou sobretudo desconcertado. Saí da Argentina a 8 de Setembro, três dias antes dos atentados, e deixei trabalho adiantado. Não sei o que sentirei quando me sentar com o papel à frente.

Umberto Eco, que o editou em Itália, diz que Mafalda não toma um partido: "só sabe que não está satisfeita". Hoje, ela continuaria sem saber que partido tomar?
Sim. Até aqui, as guerras tinham duas partes claras e uma pessoa escolhia um lado facilmente. Agora, não se pode estar ao lado de ninguém. Ao lado de Bush, não. De Blair, muito menos. Dos taliban, ainda menos. E um amigo italiano diz que, quando uma pessoa não está de um lado nem de outro da barricada, então essa pessoa é a barricada...

Essa indecisão prova que as preocupações que orientaram a criação de Mafalda, há quase 40 anos, continuam actuais?
Penso que sim. Mas há uma novidade: agora já não é preciso inventar nada. O ataque aos EUA, por exemplo, aconteceu exctamente nos moldes da arte americana: com as explosões, os incêndios, as catástrofes... É só copiar.

Hoje, a personagem Liberdade, a amiga pequenina de Mafalda, seria um pouco maior?
Depois do 11 de Setembro, seria ainda menor. Este controlo dos aeroportos, da vida das pessoas, vai acabar com a privacidade. Temos menos liberdade.

A edição italiana de um dos seus livros chamava-se Livro das Crianças Terríveis Para Adultos Masoquistas. Qual dos dois você é hoje?
Já fui os dois, mas agora não sou nenhum. Quando fiz a Mafalda, o Mundo era outro e eu tinha metade da idade de hoje. Hoje, tudo mudaria.

O que mudaria?
Hoje estou mais pessimista. Mafalda também seria mais pessimista.

As personagens de Mafalda são um tanto politicamente incorrectas: não gostam de sopa, não gostam da escola, adoram Brigitte Bardot... É importante que as crianças cultivem os seus caprichos?
Muito importante. Há que ensinar-lhes os limites, mas também deixá-las cometer erros.

Fica a ideia de que distribuiu as suas próprias manias por aquelas crianças. Quando pensa em Manelinho, o vizinho de Mafalda cujo materialismo você ridicularizava, lembra-se de todo o dinheiro que ganhou com a colecção?
Sim. E também é por isso que tenho o bom senso de gastar muitíssimo. Vivo em viagem contínua entre a Europa e a América do Sul, e, exceptuando desta vez em que paga a FNAC, sou eu que pago tudo.

Os ídolos das personagens de Mafalda são os Beatles, Brigitte Bardot... Conseguiria encontrar, no panorama actual, ícones com a mesma força para povoar o universo de novas personagens?
Não. Ninguém, até ao momento, trouxe a alegria que pos Beatles trouxeram à música. Quanto a Brigitte Bardot, e apesar de eu agora detestar as posições ideológicas dela, também ninguém personificou tão bem o papel da "namoradinha" francesa. Gosto da Émanuelle Béart, mas não é a mesma coisa. E a Juliette Binoche é só uma carinha de cosmética...

É por isso que Mafalda é feia? Porque você não gosta de carinhas de cosmética?
Talvez. Fazer uma menina bonita era demasiado fácil.

Mas a Susaninha, amiga de Mafalda, é uma menina bonita e casadoira. Ainda o seria hoje: uma menina bonita que só pensa em casar e ter filhos?
Sim. Nem sempre entendo que, com este Mundo perverso, tanta gente ainda queira ter filhos. Mas o Homem permanece.

Mudou-se de Buenos Aires para Milão em 1976, quando Rafael Videla chegou ao poder na Argentina. Não teria sido possível desenhar Mafalda durante a ditadura?
Não.

Talvez lhe pusessem apenas uma cinta Para Adultos, como Franco mandou fazer em Espanha...
No máximo, deixar-me-iam desenhar para provar que era possível fazê-lo na Argentina. Mas eu nunca poderia falar dos desaparecidos, e era impossível não falar disso.

Continua marxista?
Socialista. Creio que 70 anos de má experiência são insuficientes para dizer que o socialismo não faz sentido. Neste aspecto, penso o mesmo que José Saramago.

O texto pode ser lido na íntegra no site: http://www.joelneto.com/reportagens/mafalda.htm

sexta-feira, outubro 11, 2002


Frederico Garcia Lorca

O programa "Grandes Mestres da Literatura" da TV Cultura é realmete muito interessante. Ontem, o programa abordou a vida e a obra de Frederico Garcia Lorca e eu me espantei com o que descobri. Com "a voz"o mestre: Ás vezes, quando vejo o que se passa no mundo, pergunto-me para que escrever? Mas, há que trabalhar, trabalhar. E ajudar o que mereça. Trabalhar como forma de protesto. Porque o impulso de uma pessoa seria gritar todos os dias ao despertar num mundo cheio de injustiças e misérias de toda ordem: protesto! protesto! protesto!

Esse texto fala um pouco a minha concepção do que é o verdadeiro jornalismo. Acredito que sem a crença de um mundo mais justo não consegueria ser uma jornalista (ou quase isso) e talvez, nem se quer viver...

Jornalismo é paixão


Pode ser ingenuidade minha, até acredito que seja. Mas sempre achei que jornalismo fosse paixão, inconformismo, inquietação. Sei lá, acho que foi exatamente por isso que sempre quis ser jornalista. Todos, sempre, me achavam revoltado (tolice). Mas é engraçado, chego a sentir o sangue ferver quando vejo algo muito errado, grandes intransigências.
Acreditava que o jornalista tinha a raiva correndo nas veias, um desejo seco de vingança na garganta. Pra mim, o jornalista sempre tinha que estar do lado do mais fraco, do injustiçado, daquele que é enganado, passado para trás. Sabe, imaginava o jornalista como a única proteção contra os poderosos.Uma espécie de voz da oposição, o cara que estraga toda e qualquer negociata.
Escutava sempre que a imprensa era o quarto poder. Mas eu achava que ela era o contra poder, o ponto de equilíbrio da sociedade. Clóvis Rossi, grande jornalista, escreveu no livro ‘O que é jornalismo’(coleção primeiros passos, editora brasiliense) que, ‘o jornalismo é uma fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes’.
E é por isso que o verdadeiro jornalista devia lutar, pra conquistar as mentes e os corações do nosso público, mas para o bem, sem distorcer a verdade, investigando, denunciando, desmascarando e passando a limpo (de uma forma séria, não como naquele programa).
Pode ser ingenuidade, romantismo que não leva a nada. Mas que profissional eu serei se não questionar o sistema, a sociedade e os valores imputados pela minoria que manda e desmanda? Vou passar o resto dos meus dias escrevendo matérias sobre celulite, como emagrecer ou como arranjar o namorado ideal? Às favas, eu quero é a mudança, o novo, o caos.
É fácil e cômodo adular. Mas isso não é jornalismo. Pelo menos não no espírito desse magnífico e apaixonante ofício. Jornalista é vira lata, sonhador, inconformado. O resto? O resto, como disse Millôr Fernandes, é armazém de secos e molhados.

Fonte: www.paremasmaquinas.com.br