A guerra pela imprensa brasileira
Apesar de os pedidos para a imprensa deixar o Iraque, 600 jornalistas, segundo a edição desta terça (18/03) do Estadão, que estão em Amã, na Jordânia, tentam entrar naquele país a fim de fazer a cobertura da iminente guerra contra os Estados Unidos. Lourival Sant’Anna, de O Estado de S. Paulo, Sérgio D’Ávila, da Folha, José Meirelles Passos, de O Globo, e Oziris Marins, da RBS, são alguns desses profissionais. Poucos foram os veículos brasileiros que puderam enviar correspondentes para o palco do conflito. O motivo é sempre o mesmo: a despesa. O problema é: como fazer uma boa cobertura sem correspondentes próximos à área de guerra e depender de agências de notícias, quando muitas informações que chegam às redações são manipuladas pelos governos envolvidos?
“Essa é uma limitação inevitável. O Brasil não tem recursos para bancar muitos correspondentes lá fora”, disse Paulo Nogueira, editor de Internacional do Estadão. Sant’Anna, como o colega Sérgio D’Ávila, está em Amã. Os dois conseguiram o visto para entrar no Iraque, mas foram barrados na fronteira. “O Lourival terá amanhã (20/03) um encontro com o cônsul do Iraque na Jordânia. Pode ser que ele entre amanhã mesmo”, disse Nogueira.
Na opinião do editor do Estadão, para trabalhar com agências de notícias é importante fazer um confronto de informações. O mesmo acha Sérgio Malbergier, editor do caderno Mundo, da Folha. “Deve-se ter espírito crítico com essas informações”, alertou.
Meirelles Passos é outro que espera autorização do Iraque para poder entrar no país. Ele também está na Jordânia, de onde vem enviando matérias para O Globo diariamente. "De lá (Jordânia) nosso enviado especial não fica tanto a mercê das informações do comando americano, como acontece no Kuwait e no Qatar. Achamos que um enviado, apesar dos altos custos de uma cobertura assim, seria essencial num momento com este", disse Cláudia Sarmento, editoria de Internacional do jornal.
Para a jornalista, embora haja um correspondente no Oriente Médio, as agências de notícias são indispensáveis. “É impossível fazer uma cobertura assim sem elas, o que não significa que nos limitamos a elas. Redatores aqui trabalham como repórteres, ouvem analistas em vários pontos do mundo, montam matérias de análises, conseguem entrevistas. O mesmo é feito pelos correspondentes e colaboradores em Londres, Paris, Nova York, Buenos Aires, Madri, Berlim e Roma”, completou.
O Zero Hora, do Rio Grande do Sul, conta com Oziris Marins. Mais um jornalista na Jordânia tentando entrar em Bagdá, Marins está se dividindo entre RBS TV, Rádio Gaúcha e o diário do grupo. “A idéia é que ele entre no Iraque. Se isso não for possível, ficará na Jordânia, que já é um bom lugar”, comentou Luciano Peres, editor de Mundo. Como os outros veículos, o jornal vai trabalhar também com agências de notícias. “Temos várias agências, o que reduz o risco de passar informações manipuladas”.
O jornal A Tarde fez um remanejamento na redação e também criou uma editoria especial para cobrir a guerra. As agências de notícia e os contratos com El País e The Independent são as fontes das matérias que vêm sendo publicadas no diário. “Também nos posicionamos sobre o assunto. Na primeira página, há uma tarja vermelha dizendo ‘Não à guerra’”, disse Ricardo Noblat, diretor de redação.
Ele reconhece as limitações de se fazer um bom jornalismo sem correspondentes na zona de conflito. “Só se consegue realizar um bom trabalho quando há gente no local. Para contrabalançar, vamos trabalhar com material de análise e de jornais europeus”.
As revistas Época e ISTOÉ também não têm correspondentes. Igor Fuser e Marcelo Cavalares, da publicação da Editora Globo, acompanham a cobertura de toda a imprensa do mundo. “Confiamos no nosso senso crítico, temos que diferenciar jornalismo de propaganda”, disse Fuser.
Na ISTOÉ, foi montada uma força-tarefa para dar conta do recado. Além de publicarem reportagens de Osmar Freitas Junior, correspondente em Nova York, a equipe não tira o olho das notícias que chegam pelas agências. “Acho que agências como Reuters e AP são mais independentes, o que nos ajuda não correr o risco de passar informações manipuladas. Mas, para tentar fugir disso, é preciso trabalhar com fontes. O Osmar, por exemplo, tem fontes no Departamento de Estado e órgãos econômicos dos EUA. Quando as informações chegam aqui, basta confrontá-las e repassá-las”.
Quem conta com uma equipe reforçada é a Band News. O diretor geral da emissora, Humberto Candil, destacou que, além de ter uma fonte na Embaixada do Brasil em Bagdá, conta com Mário Sérgio Conti em Paris, Regina Beltrão em Washington e Fabrício Leonardi em Londres. “Usaremos as imagens das agências internacionais de notícias como a CNN News Source e a Reuters. Com relação às informações manipuladas, elas são fruto de informação e contra-informação, estratégia de guerra de ambos os lados. Daremos todas as posições, pois teremos escuta o tempo todo da TV do Iraque e também da Al-Jazeera”, explicou Candil.
A TV Globo prevê a utilização de até quatro equipes no cenário da guerra. Cinegrafistas, repórteres e produtores estão sendo deslocados dos escritórios de Londres e Nova York. O repórter Marcos Uchôa está no Kuwait produzindo reportagens para os telejornais. A emissora está investindo no “kit correspondente”, que, segundo a assessoria, permite mandar imagens pela Internet, em tempo real, sem a necessidade de usar satélites. A tecnologia aumenta a agilidade do trabalho, reduzindo os custos. A Globo News trabalhará em conjunto com a Globo.
A TV Record mantém uma equipe com 30 profissionais do Jornal da Record. “Trabalharemos com noticiário e imagens das agências internacionais que nos servem, com destaque para Reuters e CNN”, disse Dácio Nitrini, diretor do Jornal da Record. A emissora também já convidou especialistas para opinar, analisar e dissecar os vários aspectos que envolvem a guerra. “Tentaremos manter diálogo com jornalistas free-lancers e outras pessoas que estão ou vivem no Iraque, utilizando webcam”. Dácio conta que a relação custo-benefício do investimento de enviar um correspondente de guerra seria negativa para o telespectador. “Um correspondente não tem autonomia que lhe permita independência. E não há garantias de que conseguiria gerar via satélite suas reportagens após o início do ataque”.

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