terça-feira, abril 01, 2003

Ex-agente da CIA diz que Iraque não atacou os curdos

Segundo Stehpen Plelletiere, relatórios confidenciais que circularam em Washington mostram que ataque com armas químicas foi feito pelo Irã


Desde que anunciou sua disposição de ir à guerra contra o Iraque, o presidente dos EUA, George W. Bush, usou, como pretexto para a invasão, a necessidade de proteger o mundo da ameaça das armas químicas que, segundo ele, seriam produzidas em larga escala por Saddam Hussein. Prova disso, de acordo com o presidente americano, seria o ataque do Exército americano, 1988, contra a população curda que habita o norte do Iraque.
A história do massacre dos curdos pelo Exército iraquiano correu o mundo. Foi um ex-jornalista americano, que trabalhou como analista político sênior da CIA durante o conflito Irã-Iraque, quem lançou dúvidas sobre o episódio. No início da década de 90, Stephen Pelletiere publicou os livros Iraqi Power and US Security in the Middle East e Iraq and the International Oil System: Why América Went to War in the Persian Gulf em que questiona se o Iraque teria mesmo usado armas químicas contra os curdos. Até hoje, Pelletiere sustenta essa posição.
Em artigo publicado pelo The New York Times em janeiro deste ano, ele afirma ter tido acesso a muitos materiais confidenciais que circularam em Washington relacionados à Guerra do Golfo. E o que viu e leu nesses materiais joga por terra a versão americana para o ataque ao vilarejo de Halabja, em março de 1988. Segundo Pelletiere, tudo o que se sabe sobre o episódio é que os curdos foram bombardeados com gás venenoso no decorrer de uma batalha entre iraquianos e iranianos. Depois do ataque, afirma o ex-jornalista, a Agência de Informações da Defesa investigou o massacre e produziu um relatório confidencial que circulou dentro da comunidade de inteligência. O resultado do trabalho é surpreendente: O estudo concluiu que foi o gás iraniano que matou os curdos e não o iraquiano.
De acordo com Pelletiere, a agência descobriu que Iraque e Irã usaram gás um contra o outro na batalha de Halabja. Porém, o estado dos corpos dos curdos mostrava que eles tinham sido mortos por um agente baseado em cianeto, que age sobre a corrente sangüínea. O Irã era conhecido por usar esse agente. Já os iraquianos, de acordo com o relatório, teriam usado gás mostarda, que não tem efeito sobre a corrente sanguínea. Pelletiere afirma que a versão oficial para o massacre foi difundida pela Casa Branca com o intuito de enfraquecer Saddam Hussein, depois da vitória sobre o Irã.
O ex-agente da CIA tem outra tese polêmica. Segundo ele, não é apenas o petróleo que move os interesses dos países da região, mas sim o fato de o Iraque ter o mais extenso sistema fluvial do Oriente Médio. Ele lembra que, além do Tigre e do Eufrates, há os rios Zab Maior e o Zab Menor, no Norte do país. “O Iraque já era coberto por obras de irrigação no século 6.º d.C. e era um celeiro para a região. Antes da Guerra do Golfo, o Iraque já construíra um impressionante sistema de diques e obras de contenção do rio, a maior delas a represa Darbandikhan, na região curda. E era o controle dessa represa que os iranianos almejavam quando tomaram Halabja”, afirma.
De acordo com o ex-jornalista, na década de 90 houve muita discussão sobre a construção do chamado Aquaduto da Paz, que levaria as águas do Tigre e dos Eufrates para os Estados secos do Golfo e, por extensão, a Israel. Esse projeto não avançou, afirma, em grande parte por causa da intransigência do Iraque. “Com o Iraque em mãos americanas, é claro que tudo poderá mudar...os Estados Unidos poderão alterar o destino do Oriente Médio de uma forma que provavelmente não poderá ser contestada por décadas — não apenas por controlar o petróleo do Iraque, mas por controlar a água.”

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